sexta-feira, janeiro 12, 2007

Joana d'Arc

Santa Joana d'Arc (em francês Jeanne d'Arc) (Domrémy-la-Pucelle, 6 de janeiro 1412 — Ruão, 30 de maio 1431), por vezes chamada donzela de Orléans, é a santa padroeira da França e foi uma heroína da Guerra dos Cem Anos. Durante a guerra, tomou partido pelos árudos Armagnacs na longa luta contra os borguinhões e seus aliados ingleses. Descendente de camponeses, gente modesta e analfabeta, foi uma mártir francesa canonizada em 1920, quase cinco séculos depois de ser queimada viva.

Segundo a escritora Irène Kuhn, Joana d'Arc foi esquecida pela história até ao século XIX (o século do nacionalismo), o que parece confirmar as teorias sobre o nacionalismo de Ernest Gellner. Irène Kuhn escreveu: "Foi apenas no século XIX que a França redescobriu esta personagem trágica".

François Villon, nascido em 1431, no ano de sua morte, evoca sua lembrança na bela «Ballade des Dames du temps jadis» ou seja, «Balada das damas do tempo passado» -

Et Jeanne, la bonne Lorraine
Qu'Anglais brûlèrent à Rouen;
Où sont-ils, où, Vierge souvraine?
Mais où sont les neiges d'antan?

Antes do decrépito século XIX, Shakespeare tratou-a como uma bruxa; Voltaire escreveu um poema satírico ou pseudo ensaio histórico que a ridicularizava, intitulado «La Pucelle d´Orleans» ou «A Donzela de Orleans» [1]
Gravura de 1505
Gravura de 1505

Depois da Revolução, o partido monárquico reavivou a lembrança da boa lorena que jamais desistiu do retorno do rei. Joana será recuperada pelos profetas da «França eterna», em primeiro lugar o grande historiador romântico Jules Michelet. Com o romantismo, o alemão Schiller fez dela a heroína da sua peça de teatro "Die Jungfrau von Orleans", publicada em 1801. Em 1870, quando a França foi derrotada pela Alemanha - que ocupou a Alsácia e a Lorena - "Jeanne, a pequena pastora de Domrémy, um pouco ingênua, tornou-se a heroína do sentimento nacional". Republicanos e nacionalistas exaltarão aquela que deu sua vida pela pátria.

Durante a primeira fase da IIIaª República, no entanto, o culto a Joana d'Arc esteve associado à Direita monarquista, da qual era um dos simbolos, como o rei Henrique IV, sendo mal vista pelos republicanos. A Igreja Católica francesa propôs a Pio X sua beatificação realizada em 1909, num período dominado pela exaltação da Nação e o ódio ao estrangeiro, inglês ou alemão. O gesto do papa se inspirou no desejo de fazer a Igreja de França entrar em mais perfeito acordo com os dirigentes anticlericais da IIIª República. Mas só com a Primeira Guerra Mundial de 1914 a 1918, Joana deixa de ser uma heroína da Direita; para Irène Kuhn,a partir daí "os postais patrióticos mostram Jeanne à cabeça dos exércitos e monumentos seus aparecem como cogumelos por toda a França. O Parlamento francês estabelece uma festa nacional em sua honra no 2º domingo de maio.

Em 9 de maio de 1920, 500 anos depois de sua morte, Joana d'Arc foi definitivamente reabilitada sendo canonizada pelo papa Bento XV - era a Santa Joana d'Arc. A canonização traduzia o desejo da Santa Sé de estender pontes para a França republicana, laica e nacionalista. Em 1922 foi declarada padroeira de França, onde o dia de 30 de Maio é feriado nacional em sua honra. Joana d´Arc permanece como testemunha de milagres que pode realizar uma pessoa ainda mesmo que animada apenas pela energia de suas convicções, mesmo adolescente, pastora e analfabeta. De modo que seu exemplo guarda um valor universal.

[editar] Notas biográficas

Joana d'Arc afirmava que desde os 13 anos ouvia vozes divinas. As vozes insistiam para que ela salvasse a França do domínio inglês, porém, durante cinco anos, manteve essas mensagens em segredo, até 1429, quando conseguiu um cavalo, deixou a sua casa na região de Champagne e viajou em destino à Corte do rei francês Carlos VII. Joana teria convencido o rei Carlos VII do seu desígnio divino após ter sido provada por Sua Majestade.

Segundo a tradição oral, a primeira dessas provações teria sido quando, antes dela entrar na sala do trono, o rei pedira a um nobre que vestisse o manto real e se sentasse no trono, enquanto ele se misturaria entre os nobres, para se assegurar de que Joana, se fosse enviada divina, poderia reconhecê-lo como rei. Joana teria então entrado, lançado um olhar para o falso rei, ido até ao verdadeiro, curvado e dito: "Senhor, vim conduzir os seus exércitos à vitória". Mais tarde, porém, o rei ainda a fez passar por outras provas diante dos teólogos reais, como, por exemplo, para averiguar a sua virgindade.

Convencido do discurso de Joana, o rei entrega-lhe às mãos uma espada, um estandarte e o comando das tropas francesas, para seguir rumo à libertação da cidade de Orléans, que havia sido invadida e tomada pelos ingleses havia oito meses.
Joana d'Arc sendo interrogada pelo Cardeal de Winchester numa pintura de Paul Delaroche.
Joana d'Arc sendo interrogada pelo Cardeal de Winchester numa pintura de Paul Delaroche.
Joana d'Arc dizia escutar vozes celestiais que lhe davam alento para a conquista.
Joana d'Arc dizia escutar vozes celestiais que lhe davam alento para a conquista.

Em Maio de 1429, com um pequeno exército, Joana consegue a vitória sobre os invasores em apenas oito dias. Cerca de um mês após sua vitória sobre os ingleses em Orléans, ela conduziu o rei Carlos VII à cidade de Reims, onde Carlos VII é coroado em 17 de julho. A vitória de Joana d'Arc e a coroação do rei acabaram por reacender as esperanças dos franceses de se libertarem do domínio inglês e representaram a a virada da guerra. A inveja dos conselheiros rivais e as dúvidas sobre suas habilidades militares reduziram a influência de Joana d'Arc. Na primavera de 1430, Joana d'Arc retomou a campanha militar e passou a tentar libertar a cidade de Compiègne, onde acabou sendo dominada e capturada pelos borgonheses, aliados dos ingleses, em 1430.

Foi presa em 23 de Maio do mesmo ano e entregue aos ingleses, que, interessados em desacreditá-la, a acusam de bruxaria e heresia. Submetida a um tribunal católico em Ruão, Joana é condenada à morte na fogueira, após meses de julgamento pela Igreja inglesa. O maior responsável por sua morte é o bispo Pierre Cauchon, que já fora reitor da Universidade de Paris, e fez tudo para agradar os ingleses, com o objetivo de obter o bispado de Ruão. Joana é queimada viva em 30 de maio de 1431, com apenas dezenove anos. Reza a lenda que Joana era tão católica que depois de queimada, só o coração ficou intacto.

A revisão do seu processo começou a partir de 1456, quando foi considerada inocente pelo Papa Calisto III e o processo que a condenou foi considerado inválido, e em 1909 a Igreja Católica a beatifica. Em 1920, Joana d'Arc é declarada santa pelo Papa Bento XV.

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